Mariana Pacheco: "As inseguranças fazem-me querer dar o meu melhor"

"Há sempre espaço em nós para o amor. A vida é amor e há espaço para ele em todo o lado, façamos nós o que fazemos, estejamos maiis ou menos ocupados." Esta afirmação de Mariana Pacheco é muito transparente na forma como a define, já que é de amor e de sonhos que se alimenta. Sohos que tem tornado tangíveis tanto na música como na representação, estando agora em antena na novela Amor, Amor, um projeto que a enche de orgulho. No campo pessoal, a atriz mantém a mesma discrição de sempre, sen nunca ultrapassar os limites que traçou para si e para o seu bem-estar. Ainda assim, é como um entusiasmo palpável que fala da vida e da sua beleza, que tem aprendido a observar com maior detalhe e encantamento nos últimos tempos.

- Há uma publicação no seu Instagram que tem a seguinte legenda: "Não quero realismo. Quero magia!" O que é que torna a sua vida mágica?

Mariana Pacheco - O meu trabalho, de certa forma, porque foi a realização de um sonho que tinha desde criança. E assim que começaram a acontecer as primerias realidades deste sonho, percebi que era exatamente o que queria fazer. Um sonho onde também entra a música, que está equiparada à representação. E é isto que transforma uma vida em magia.

- Essa magia pode ser um bocadinho roubada pela exposição pública inerente ao seu trabalho, ou não deixa que isso aconteça?

- Não considero que a magia seja roubada assim, até porque sou muito reservada e consigo fazer uma gestão perfeitamente saudável, sem deixar que isso me traga infelicidades. Sinto-me muito feliz quando me abordam na rua, tenho tido momentos muito bons e não me sinto nada invadida. Acho que as pessoas têm boas inteções quando se cruzam no nosso caminho, e isso só alimenta a magia da vida. Contudo, acredito que devo resguardar o meu lado pessoal e íntimo, para que não seja invadido. Mas aí sou eu que traço os meus limites e sei exatamente o que quero expor.

- É fiel à sua própria liberdade?

- Sou fiel à minha próprialiberdade, é isso mesmo. Gosto de me sentir livre em todo o lado, dentro daquilo que me faz sentir confortável. E isso é, de certa forma, um princípio importante para nos sentirmos bem connosco próprios,para não nos sentirmos presos nem sufocados. Esse sentimento de liberdade também está muito presente na forma como comunico, na possibilidade de dar a minha opinião. Sinto-me livre dentro e fora do meu corpo. Sem preconceitos, restrições ou barreiras.

- Além a representação e da música, o que mais a apaixona na vida?

- Literatura, praia, natureza, o pôr do sol... No ano passado, muito fruto do confinamento, acabei por me sentir ainda mais ligada à tera, às árvores e às plantas. Não sentia muito empatia por estas coisas e agora sinto-me muito ligada às pequenas coisas da vida, que nos dão muita alegria, como ver tomates a crescer numa horta. E acho que o meu caminho é por aqui, nesta ligação a tudo o que sou e ao mundo.

- É a beleza pura das coisas simples que a cativa?

- Sim. Se todos os dias parássemos uma hora para ir à praia, caminhar, ver o pôr do sol, seríamos todos muito mais felizes. Tirar um bocadinho de cada dia para nada, só para nos ligarmos ao nosso mundo e a nós mesmos. Sem distrações. São estas pequenas ações que nos trazem mais felicidade, mais saúde mental... É tudo uma grande correria e ninguém sabe parar. Eu adoro estar sozinha e entendi muito cedo que estarmos sozinhos não tem que significar sentirmos-nos solitários. É muito importante sabermos ter a paz de espírito de estarmos sozinhos, sabermos parar, não vivermos a correr. Não nos obrigamos a fazer isso muitas vezes, e por isso é que há tantao stress na nossa sociedade.

- Para gravar a nosa novela da SIC teve que passar mais tempo em Penafiel. Como foi essa experiência? É sempre benéfico para um ator viver realmente no sítio da trama?

- Sim, das minhas coisas preferidas nesta profissão é conhecer pessoas e realidades diferentes. Conhecer outros ´sitios é tão bom e é superimportante fazê-lo no decorrer do trabalho. Pude conhecer algumas pessoas, conversar com elas, perceber a forma como falam, os seus hábitos... Estive muito atenta às pessoas para me incluir neste mundo e fazer sentir-me parte dele, para dar credibilidade à personagem.

- A Mariana tem sido presença assídua tanto no pequeno ecrã como nos palcos. A certeza que sempre teve em relação a esta profissão foi sobejamente maior do que todas as inseguranças inerentes à mesma?

- Completamente. Esta minha paixão pelo palco e pela televisão sempre foi muito maior que tudo o resto. Claro que tudo o resto teve também os seus altos e baixos, mas, à medida que fui crescendo e ganhando alguma maturidade, essas inseguranças cresceram. O que já percebi que é normal, porque ficamos mais conscientes da possibilidade da falha... Há um medo crescente em relação ao que faço. Mas tudo se complementa - se não sentir este medo ou nervosismo, não vale a pena fazer o que faço. É o formigueiro na barriga que nos alimenta e que faz com que queiramos sempre estar à altura daquilo que estamos a fazer. Quando já não sentimos isso, acho que acabamos por nos acomodar ao suficente. Por isso acredito que são as inseguranças que me movem, que me fazem querer dar o meu melhor. EE esta superação constante, a cada novo projeto, dá uma sensação de vitória que chega a ser viciante.

- Cada superação fê-la chegar aos 28 anos a saber que é capaz de tudo ao que e se propõe?

- Seria de esperar que sim, mas não neessariamente [Risos] A cada novo desafio profissional começo sempre do zero. É como se estivesse no início, porque cada personagem é uma descoberta. Mas é esta vontade constante de me superar que me mantém viva. Acredito que somos responsáveis pelo nosso próprio destino, que há coisas que devemos fazer acontecer, como é o caso da música para mim. Antes não sabia como me queria mostrar, porque a música tem de ser uma coisa vulnerável, despida, e isso assustava-me. Precisava de ganhar maturidade para perceber o que quero dizer e, nesse aspeto, sinto que estou mais próxima de chegar lá.

Fonte : Caras